Comentários sobre a Escolha de Investidores e Rodadas de Investimento

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O mercado de tecnologia e startups viu um boom nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, dado que o setor foi impulsionado por um cenário de maior liquidez global. No Brasil, esta situação resultou em uma combinação rara: (i) baixa taxa de juros; (ii) injeção de capital pelos bancos centrais; (iii) interesse de pessoas físicas em investimentos de maior risco – migrando da poupança para o mercado de capitais; e (iv) interesse de investidores estrangeiros em transferir recursos ao Brasil dado o potencial de retorno.

Mais especificamente, está sendo corriqueiro acompanhar anúncios de novas rodadas em diferentes empresas com modalidades de investimentos distintas em empresas que visam otimizar produtos, processos, atividades mercantis etc., a partir da tecnologia: as famosas techs.

O que propomos analisar neste espaço é sobre os momentos que antecedem a realização do pitch, due diligence, definição do valuation, estruturação do investimento e fluxo financeiro e assinatura dos acordos, isto é: o motivo que leva a startup a sentar na mesa para negociar a rodada de investimento.

Sob a ótica da startup, o ponto de partida para avaliar a realização de uma rodada de investimento toma como base a necessidade de, ao menos um, dos seguintes elementos:

(a) necessidade de caixa para o desenvolvimento do modelo de negócio e/ou desenvolvimento de um projeto/produto (dado que empresas de tecnologia necessitam de capital intensivo vinculado ao desenvolvimento do projeto);

(b) a busca por smart money de investidores (institucionais ou pessoas físicas) com expertise e conhecimento no setor; e

(c) o desenvolvimento de estrutura operacional, logística, tecnológica e de pessoal que possibilitem uma agregação de valor ao modelo de negócio, produto ou projeto frente a concorrência (muitas vezes, já capitalizada ou em capitalização).

É óbvio que cada empreendedor terá a sua visão e ideia sobre seu negócio, mas, ao mesmo tempo, sem que seja verificado o preenchimento de uma das hipóteses descritas acima (ou de modificações ou adaptações delas), a realização de uma rodada de investimento deixa de ser necessária e vantajosa para os interesses da empresa no longo prazo, correndo o risco de o mercado e os investidores não compreenderem o objetivo da captação de recursos e, consequentemente, a startup “gastar cartucho” sem necessidade em decorrência de confusão ou má condução por parte de seus gestores. Nestas situações, futuramente a startup podem apresentar maiores dificuldades de levantamento de recursos.

Isso significa que, no momento pré-rodada, a startup deve se auto-organizar a fim de demonstrar, de maneira clara, aos potenciais investidores o objetivo da captação, a forma de utilização dos recursos e os próximos passos para fins de cumprimento de metas e obtenção de resultados positivos.

Isto porque os interesses de ambas as partes devem estar claros para que a rodada de investimento seja frutífera. Até porque um dos maiores riscos para a continuidade da startup é a busca por investimento de terceiros sem um propósito bem definido e delimitado.

A captação de recursos com terceiros sem um plano claro e definido, também resultará no ingresso de mais stakeholders interessados em um pedaço do bolo (que, na maioria dos casos, ainda nem foi levado ao forno). Tal fato é um complicador pelo fato de que qualquer pessoa que aloque dinheiro, expertise ou tempo num determinado negócio vai querer, direta ou indiretamente, tomar partido, participar de tomadas de decisões, questionar determinadas modelagens, avaliar aquisição de bens e serviços, definir estratégia de crescimento.

E é justamente neste último ponto que os conflitos começam a surgir. Vejamos alguns exemplos.

  • Novas equipes e ajustes no modelo de gestão: após a rodada de investimento, por vezes o investidor escolhe determinada(s) pessoa(s) para conduzir(em) um projeto, setor ou até mesmo a startup. A pessoa ou grupo de pessoas escolhidos pode possuir experiência no mercado e conhecimento na área de atuação na startup, contudo, não possuir experiência numa empresa startup de tecnologia, em que as tomadas de decisão são mais rápidas e menos burocráticas e a cumulação de atividades é mais comum. A partir disso, deixa de existir uma boa comunicação entre os times e a liderança, o que pode levar ao atraso no desenvolvimento do produto, na abordagem de clientes, no fechamento de oportunidades;
  • Tempo-retorno do investimento: São raros os negócios que apresentam um resultado positivo de imediato. É necessário um tempo para construção de time, maturação do produto, definição e desenvolvimento de um mercado consumidor e garantia de uma carteira de clientes que traga um bom fluxo de caixa à startup. Entretanto, por vezes, o investidor precisa abreviar etapas, aumentar o consumo de caixa (sem o devido controle de custos e despesas) a fim de obtenção de resultados de curto-prazo que justifiquem aos investidores os aportes realizados, fato que pode comprometer o controle financeiro da startup e, com isso, virar uma bola de neve para inúmeras problemáticas de gestão-financeiro;
  • Público-alvo e mercado consumidor: para uma startup receber investimento é imprescindível que, ainda que conceitualmente, a sua ideia traga retorno financeiro (ninguém aportará recursos se não houver a expectativa de que o negócio possa crescer e de que haja uma perspectiva de rentabilidade). Entretanto, a participação de novos investidores em discussões envolvendo como e para quem o produto será elaborado podem levar à perda do foco principal da startup, prejudicando o desenvolvimento e aprimoramento de funcionalidades de seus bens e serviços, comprometendo o caixa da empresa e o timing de oportunidades.

Neste sentido, a realização de rodadas de investimento por gestores(as) de startups deve ser previamente avaliada e discutida com o time responsável pelo gerenciamento do negócio. Atrair investidor apenas por atrair não costuma ser uma estratégia muito adequada, considerando que o “risco de investimento” vai muito além do “risco de capital” de captar um dinheiro desnecessário (ou sem objetivo).

Por isso, é de grande importância que os fundadores e gestores de startups avaliem com calma (i) a necessidade de uma (nova) rodada de investimento e (ii) a pessoa ou grupo de pessoas e empresas que serão esses novos investidores, tendo em vista que tais pessoas, ainda que interessadas no sucesso da startup, tendem a possuir objetivos e formas de atuação distintas dos fundadores.

Neste sentido, ressaltamos a importância de as startups e seus times serem estratégicos no momento prévio a captação de novos recursos com terceiros, estabelecendo não somente o valor necessário para o desenvolvimento do negócio, mas também detalhes acerca do modelo de gestão e administração do negócio, do perfil do investidor etc.

Tal discussão prévia tornará a adaptação da equipe e da startup mais simples, bem como facilitará a elaboração dos documentos atinentes ao negócio (mútuo conversível, acordo de quotistas ou acionistas etc.).

ANDRÉ CORRADI

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Bacharel em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

ÁREAS DE ATUAÇÃO

André atua nas áreas de Direito Contencioso Cível Estratégico, envolvendo direito civil, recuperação judicial, dentre outros.

Tem experiência em responsabilidade civil, contratos, direito do consumidor e outros.

 

EXPERIÊNCIA

Ex-integrante da Equipe de Contencioso Cível Estratégico do Lobo de Rizzo Advogados.

Ex-integrante da Equipe de Arbitragem e Contencioso Cível Estratégico do Carvalho, Machado e Timm Advogados (CMT).

Ex-integrante da Equipe de Arbitragem e Contencioso Cível Estratégico do Mannheimer, Perez e Lyra advogados Advogados (MPL).

Foto - Thiago

THIAGO QUINTANILHA

Formação acadêmica

Graduado em direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP (PUC-SP).

Pós-graduado em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mestrando em Direito Econômico e Financeiro pela Universidade de Bologna, Itália.
Graduado em direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP (PUC-SP).
 

Pós-graduado em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mestrando em Direito Econômico e Financeiro pela Universidade de Bologna, Itália.

Graduado em direito na Universidade
Federal Fluminense (UFF), parcialmente cursada na Universidade Sophia
Antipolis (França).

Pós-graduado em Finanças e Contabilidade pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).

Pós-graduado em Direito do Agronegócio pelo
Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA).

Especialista em Arbitragem, pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV).

ÁREAS DE ATUAÇÃO

Thiago Quintanilha de Almeida é sócio responsável pelas áreas de Contencioso Cível Estratégico e Empresarial.

Thiago Quintanilha de Almeida é sócio responsável pelas áreas de Contencioso Cível Estratégico e Empresarial.

EXPERIÊNCIA

Ex-integrante do Lefosse Advogados.

Ex-integrante do Rocha e Baptista Advogados.

Especialista em Contencioso Cível com ampla experiência em recuperação de
créditos.
Ex-integrante do Lefosse Advogados.

Ex-integrante do Rocha e Baptista Advogados.

Especialista em Contencioso Cível com ampla experiência em recuperação de
créditos.
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